Clube 24 de Agosto

Bruna Teles Mena
Vinicius Costa Franco
O Clube 24 de agosto foi fundado em 1918 por um grupo de famílias negras, com o intuito de ser um espaço de mobilização e ajuda mútua da classe trabalhadora negra que buscava um local para socializar e articular ações, promovendo letramento, aprendizado de ofícios, profissões e espaço para conferências. Seus membros tinham relação com a Igreja Católica, através da Irmandade Nossa Senhora do Rosário e também com a Sociedade Operária Jaguarense, que tinha a participação direta dos padres. Proibidos de frequentarem os espaços de sociabilidade da cidade das famílias brancas, constituíram o seu espaço, mas o sentido da construção do Clube foi para além disto, sendo um território importante de demarcação da cidadania do povo negro na cidade.
No carnaval, o Cordão Carnavalesco União da Classe, vinculado ao Clube e fundado em 1924, teve enorme e marcante participação nas festas da cidade de Jaguarão durante a primeira metade do século XX. Sua organização e empolgação eram destacadas e os desfiles sempre muito aguardados, ao ponto de ser notícia nos jornais da imprensa branca da cidade quando em 1930 não conseguiu participar do carnaval, com elogios e lástimas pela não participação.
Posteriormente ao Cordão, o Clube também contou com uma escola de samba, denominada Bataclan, que participou de festas carnavalescas do outro lado da fronteira, em Rio Branco/UY, chegando inclusive a conquistar prêmios e ser notícia no periódico de Melo, o Orientaccion.
Nas décadas de 1930 e 1940, com o objetivo de arrecadar fundos para a instituição, o Clube 24 de Agosto realizou Festivais de Cultura no Teatro Esperança, chegando a organizar um Centro Dramático que contava com um grupo de atores e atrizes negros e negras da cidade para a execução de peças de teatro.
O Clube, continua até os dias de hoje, como um espaço muito importante para a cultura e a resistência da comunidade negra de Jaguarão, além de se constituir um espaço de afirmação da identidade negra, sendo hoje uma referência na cidade. O Clube 24 de Agosto é o primeiro clube do Estado a ser tombado como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul. Hoje, com sede própria, localiza-se na rua Augusto Leivas, nº 217. Sua primeira sede foi na beira do Rio Jaguarão, dividindo espaço com a Sociedade Operária Jaguarense, na Rua 20 de Setembro, nº 332. Posteriormente, teve sua sede na Rua General Marques, nº 363, atrás da Igreja Matriz em um prédio emprestado pelas famílias Marques e Gonçalves, na figura de Odilo Marques Gonçalves.
Nas duas últimas décadas, o Clube contraiu dívidas com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que foram ganhando proporções questionáveis, tendo sua sede leiloada por um processo judicial, que foi tido como arbitrário. Neste processo, a comunidade negra da cidade, mobilizada em torno do Clube, reagiu de forma contundente, articulando atividades e protestos que traziam como referência a luta por cidadania e contra o racismo. O Clube 24 de Agosto tornou-se uma referência ao Estado do RGS, e continua ativo e atuante, construindo além de bailes e festas, atos e eventos onde a cultura e tradição da comunidade negra é celebrada e valorizada.
Referências
AL-ALAM, Caiuá Cardoso; ESCOBAR, Giane Vargas; MUNARETTO, Sara Teixeira (orgs.). Clube 24 de Agosto (1918-2018): 100 anos de resistênciade um clubesocial negro nafronteira Brasil-Uruguai. Porto Alegre: ILU, 2018.
AL-ALAM, Caiuá Cardoso; OLIVEIRA, Fernanda. A comunidade negra na fronteira entre Brasil e Uruguai: uma análise sobre o Pós-Abolição por meio dos Clubes Negros de Jaguarão e Melo em meados do século XX. História Unisinos, v. 25, n. 3, p. 503-517, 2021.
NUNES, Juliana. “Somos o suco do carnaval!”:A marchinha carnavalesca e o Cordão do Clube Social 24 de Agosto.Pelotas/RS: UFPel, 2010. (Trabalho de Conclusão de Curso)