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Círculo Operário de Jaguarão,
antiga Sociedade Operária Jaguarense

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Caiuá Cardoso Al-Alam

           A Sociedade Operária Jaguarense foi fundada em 1911. A partir de 1948 passou a ser chamada de Círculo Operário de Jaguarão, e sua sede fica na atual Marechal Deodoro nº 377. Eram instituições que buscavam a partir da moral cristã, realizar práticas de assistência à classe trabalhadora, pautando uma perspectiva de inclusão social a partir de uma pauta conservadora dos costumes. A Sociedade Operária Jaguarense, celebrava o rito católico, o zelo pelo valor da família, pautando junto a classe trabalhadora tudo aquilo visto como imoral, como o consumo de álcool e outras práticas tidas como desvios sociais. Mas fundamentalmente, a Igreja no trabalho de base na Sociedade, buscava distanciar a classe trabalhadora dos movimentos socialistas, comunistas, aqueles que previam a emancipação da classe trabalhadora. A Sociedade realizava este trabalho, a partir das diferentes atividades, como palestras, ritualizações das práticas cristãs, por meio das oficinas de trabalho, cursos de primeiras letras, mas também continha um jornal, o chamado O Amigo do Operário. Em 1913, era enfática na condenação ao socialismo: “No socialismo, o operário não passa de um instrumento, de um escravo. Operários que amais a verdadeira liberdade e prezais a vossa dignidade humana – alerta! Tudo por Deus, pela Pátria, pela Família; tudo pelo bem e progresso de nossa classe! ”. A partir dos valores da Igreja Católica, como a valorização da família, buscavam também a vinculação de uma ideia de pátria atrelada a concepção de uma comunidade tida como ordeira, em harmonia, coisa que a sociedade da época, e a de hoje, não o são. Escondendo assim as contradições das condições de vida da classe trabalhadora na época, em uma conjuntura política em que as elites buscavam de todas as maneiras disciplinar operários, que mantinham uma organização em sindicatos e outros movimentos que alvoreciam naqueles anos, culminando com as grandes greves em 1917.

          Dentre o coletivo de famílias operárias que compunham as atividades da Sociedade Operária Jaguarense, e depois o Círculo Operário, constam muitos homens e mulheres negras. A comunidade negra de Jaguarão, tinha íntima relação nos manejos de organização comunitária via Igreja Católica, constituindo desde o século XIX os núcleos que sustentavam as irmandades religiosas, como as de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição, garantindo iniciativas importantes no que tange ao assistencialismo e auxílio mútuo. As irmandades citadas e a Sociedade Operária Jaguarense, estavam vinculadas aos núcleos familiares que geraram em 1918 o Clube 24 de Agosto, clube negro centenário e em funcionamento até hoje em Jaguarão. Os diretores do Clube, também assumiram cargos na Sociedade Operária como nas irmandades, principalmente na do Rosário, como foi o caso de uma das lideranças do processo de fundação do 24, o senhor Theodoro Rodrigues. Outro fato importante, é constatado quando observamos que a primeira sede do Clube 24 de Agosto, foi na Rua 20 de Setembro nº332, na beira do rio Jaguarão, num prédio dividido com a Sociedade Operária Jaguarense. Este é apenas um dos fatores que enfatizam a estreita relação destas três instituições e o quanto a Sociedade Operária foi também um importante território negro, espaço de formação de ofícios, letramento e outras práticas associativas. Portanto, a moral cristã vinculada à organização dos/das trabalhadores/as foi uma marca da atuação da comunidade negra da cidade. Mas apesar de ser uma tradição de organização da comunidade negra local, esta era apenas uma das formas de atuação política, hegemônica na cidade, mas certamente houveram dissonâncias nas suas posições. Exemplar foi a circulação do jornal A Alvorada, criado em Pelotas no ano de 1907, e que teve um suplemento especial chamado O Jaguarense, que circulou entre 1932 e 1934 contando com quase 100 assinaturas na cidade de Jaguarão, trazendo posições críticas contundentes nas interferências da Igreja Católica nos movimentos sociais e sindicais da classe trabalhadora negra. Um elemento é importante de destacar, se havia por parte da Sociedade Operária, e da Igreja, uma intenção moralizadora por parte dos princípios cristãos, outra era a receptividade que a própria comunidade negra fazia disso, não reproduzindo certamente aquilo que exatamente esperavam os padres, manejando estes espaços de inserção social para qualificar suas vidas, a inclusão no mercado de trabalho e o combate ao racismo. Posteriormente, a partir de 1948 no Círculo Operário, esta instituição continuou a ter participação das lideranças negras da cidade, contando com parceria efetiva na vinda de cursos de artes e ofícios, na articulação da representação da União dos Homens de Cor na cidade, fundada em Porto Alegre no ano de 1943, tendo anunciada sede própria em Jaguarão no ano de 1952. O espaço foi acolhedor também do Colégio Noturno 20 de Setembro, fundado em 1918, escola de primeiras letras fundamental para as famílias negras e da classe trabalhadora da cidade.

Referências

AL-ALAM, Caiuá Cardoso. O Jaguarense no jornal A Alvorada (1932-1934): imprensa negra e política na fronteira Brasil-Uruguai. MÉTIS: história & cultura – v. 19, n. 37, p. 54-79, jan./jun. 2020.

DIEHL, Astor. Os círculos operários: um projeto sociopolítico da Igreja Católica no Rio Grande do Sul (1932-1964). Porto Alegre: EDIPUCRS, 1990.

 

VERGARA, Patricia Lima. Um por todos, todos por um: a Sociedade Operária Jaguarense (1911-1948). Jaguarão: Unipampa, 2019. (Trabalho de Conclusão de Curso)

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