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Quilombo Madeira

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Caiuá Cardoso Al-Alam

         O Quilombo Madeira, situado na localidade do Cerrito, na 3ª Zona do município de Jaguarão, tem uma história de longa data. O território negro fica ao norte da cidade jaguarense e ao sul de Herval, próximo ao chamado Arroio Quilombo. Referências ao arroio e também a uma estância que carregava o mesmo nome, Quilombo, são feitas na documentação já no século XIX. Ainda próximo a estes locais, fica o chamado Cerro dos Mulatinhos, cartografias que evidenciam um intenso território ocupado pelas famílias negras e suas experiências de escravidão e liberdade. Portanto, a história do Quilombo Madeira remete a diversas gerações, provavelmente situada nas mediações de antigos/as trabalhadores/as escravizados/as e os proprietários de terra e criadores de gado vacum.

          Segundo informações de pesquisas e bibliografia, o Quilombo é composto por cerca de 40 hectares que acolhem o número de 60 famílias. O Madeira preserva uma cultura extremamente rica e composta pela experiência do mundo do trabalho na Pampa. A criação de animais, plantio de alimentos, assim como o artesanato, compõe a economia das famílias do lugar, que também executam outros ganhos com diferentes tipos de trabalho. Estão lá presentes os elementos do que se chama de cultura afrogaúcha, destacada por Oliveira Silveira, o poeta da Consciência Negra, durante toda sua vida nas suas poesias e pesquisas. Expressões culturais, de linguagem como a sanga e o fandango, receitas de comidas como o quibebe, práticas de trabalho como as realizadas com o couro do boi e a lã das ovelhas, a música como o tango e a milonga, remetem a muitas influências de procedência do continente africano. São evidências da diáspora africana no sul das Américas. A comunidade do Quilombo Madeira representa esta cultura da Pampa negra.

          No período colonial, durante o contexto do Império Marítimo Português, ficou cristalizada a definição do Conselho Ultramarino realizada em 1740, definindo os quilombos como “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados, nem se achem pilões neles”. Vinculou-se as experiências quilombolas a espaços isolados, fora do contexto da sociedade escravista, o que hoje entendemos como equivocado, pois os quilombos estavam integrados a esta sociedade, em posições ardilosas, mediando estratégias de resistência, de sobrevivência, em redes sociais com trocas de informações e mantimentos. Estes laços de contatos, de sociabilidade e táticas, são atualmente tratados pela historiografia como campo negro, férteis experiências entre o povo africano e descendentes, em escravidão e até mesmo em liberdade. Eram espaços demarcados para além de coletivos de escravizados/as em fuga, sendo locais de intensa experiência social, de mediações culturais, saberes, e de estratégias de resistência.

          A comunidade foi certificada como terra quilombola pela Fundação Cultural Palmares a partir da portaria nº 51 de 22 de março de 2010, tendo seu processo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) correspondendo ao número 54220.002583/2009-94. Mas é importante enfatizar que, segundo informações do site da Palmares, a comunidade do Madeira ainda não foi titulada. Das 3.400 terras quilombolas certificadas no país, esta é uma realidade de cerca de 90% das terras de remanescentes de quilombos, que até hoje não conseguiram ter seu registro de posse da terra efetivado. O que é um direito garantido pela Constituição de 1988, assim como reconhecimento destes territórios negros enquanto patrimônio cultural brasileiro. O que evidencia a perversidade do lento processo de reparação ao povo negro no Brasil.

Referências

CAPA. Revelando os quilombos no Sul. Pelotas: Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, 2010.,

FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Portaria Nº 51, de 22 de março de 2010/Certidão emitida pela Fundação Cultural Palmares | Diário Oficial da União. 2010.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt; AL-ALAM, Caiuá Cardoso; PINTO, Natália Garcia. Os Calhambolas do General Manoel Padeiro: práticas quilombolas na Serra dos Tapes (, Pelotas, 1835). São Leopoldo: OIKOS, 2020.

CONTATO

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Jaguarão - RS, 96300-000

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